V Congresso Nacional de Fisioterapeutas · 2002
A Fisioterapia em movimento
Memórias dos Congressos Nacionais de Fisioterapeutas
5º Congresso
- Lisboa, 31 de maio a 2 de junho de 2002 -
Tema: A Fisioterapia em movimento
As novas instalações da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa (ESTeSL), situadas no Parque das Nações, acolheram o 5º Congresso Nacional dos Fisioterapeutas.
As dinâmicas na oferta de ensino com a formação dos primeiros licenciados em Fisioterapia, o impulso dado pelos primeiros mestrados em Ciências da Fisioterapia, o surgimento dos primeiros fisioterapeutas doutores, o forte incremento do número de fisioterapeutas que, anualmente, entravam no mercado de trabalho, o incremento que mais claramente se notava na atividade liberal da Fisioterapia, constituíam fortes indicadores de que a Fisioterapia estava em movimento.
As magníficas condições do auditório da ESTeSL e o tempo solarengo e primaveril constituíram o cartão de visita para os cerca de 300 fisioterapeutas que deram forma ao 5º Congresso Nacional de Fisioterapeutas.
O 5º Congresso Nacional de Fisioterapeutas procurou reforçar junto da profissão o que eram as tendências que se verificavam no âmbito das ciências da saúde em geral. A inovação tecnológica e a acentuada atividade científica traziam novos conhecimentos que deveriam alimentar e suportar a prática clínica da Fisioterapia, deixando, progressivamente, de lado, práticas que se provem ineficazes.
O foco crescente no “Movimento” e nas “Disfunções do Movimento”, constituiu uma opção estratégica da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas que pretendeu recentrar a atenção dos fisioterapeutas no seu objeto principal de intervenção, sendo este o tema do congresso: “Fisioterapia é Movimento”.
Foi um ambiente propício para a divulgação dos projetos de investigação que já se estavam a realizar no âmbito das licenciaturas de Fisioterapia. Um universo muito abrangente de temas, desde a “Toxina botulínica” à “A comunidade como cliente”, ofereceram aos presentes a perspetiva diversificada e atual da intervenção dos fisioterapeutas. Começava a notar-se um esforço para traduzir e validar para a população portuguesa um conjunto, ainda reduzido, de instrumentos de medida. Era evidente o reconhecimento de que a profissão procurava evidenciar os seus resultados.
Temas profissionais decorrentes do impacto da introdução do grau de licenciatura na formação graduada do fisioterapeuta, estimularam a discussão e reflexão sobre a evolução da profissão em Portugal.
A profundidade do programa o 5º Congresso contou ainda com vários pontos altos. Destacam-se, entre outros, o Painel de Debate “Profissão. Que Profissionais?”, a Conferência Temática 1 “Movimentos!? Diferentes Olhares Sobre a Disfunção do Movimento”, e a Conferência Temática 2 “Avaliação e Medida em Fisioterapia”.
O Painel de Debate sobre a “Profissão” trouxe uma visão atual do desenvolvimento social da profissão, sendo apresentados e discutidos temas relacionados com a “Formação”, a “Autonomia Profissional” e o “Desenvolvimento Profissional”.
A Conferência sobre o “Movimento e a Disfunção do Movimento”, despertou a atenção sobre a influência do contato físico no sistema nervoso central; a relação entre estabilidade-mobilidade no contexto do sistema do movimento; e a evolução do comportamento postural na escala do tempo.
A Conferência sobre “Avaliação e Medida em Fisioterapia” abordou temas relacionados com o diagnóstico diferencial e a utilização da eletromiografia no estudo do movimento humano.
Neste Congresso introduziu-se pela primeira vez, e com honras de Sessão Plenária, a “Conferência APF” (atualmente designada “Conferência APFISIO”), que teve continuidade nos congressos que se lhe seguiriam. Foi, com certeza, um dos pontos mais altos do Congresso, o momento em que a fisioterapeuta Margarida Gouveia pôde e soube muito bem partilhar, na primeira pessoa, a “História de Uma Vida; História de Uma Profissão”. Vários aspetos destacaram-se na sua comunicação: foi lembrado o papel decisivo da Santa Casa da Misericórdia na introdução da formação em Fisioterapia em Portugal em 1957, desmontando a ideia corrente de que o surgimento da Fisioterapia estaria relacionado com a resposta às necessidades criadas pela Guerra do Ultramar; a matriz internacional da profissão, desde logo marcada pela vinda de formadoras estrangeiras e pelo apoio ao aprofundamento da formação inicial fora do país; a motivação dos primeiros fisioterapeutas pelos assuntos da profissão, criando um “corpo profissional”, - a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO) -, logo em 1960; e a integração da APFISIO, poucos anos depois, ainda na década de 60, na Confederação Mundial de Fisioterapia, a atual World Physiotherapy. Os avanços e recuos do estatuto social da profissão nem sempre acompanharam o avanço constante da formação de base e da formação contínua em Fisioterapia, sendo sublinhada a resiliência e determinação dos fisioterapeutas e da APFISIO para fazer avançar a profissão. Foi uma comunicação realista, mas também apaixonada, aquela que os congressistas puderam assistir.
Um dos elementos da Comissão Organizadora, referindo-se a este Congresso, destacava, para além do reconhecimento feito ao investimento no programa científico, o facto relacionado com a mobilização e participação dos estudantes dos Cursos de Fisioterapia, que deram um importante contributo ao trabalho desenvolvido pela Organização do Congresso, revelando o envolvimento crescente das Escolas nos eventos da profissão.
O 5º Congresso Nacional de Fisioterapeutas afirmou-se pela diversidade e profundidade dos temas apresentados, constituindo um momento de reflexão e relançamento da profissão, do qual resultaram as seguintes conclusões aprovadas em Sessão Plenária.
5º CONGRESSO NACIONAL DE FISIOTERAPEUTAS
- CONCLUSÕES -
- Que o projeto da APFISIO (à data APF), apresentado aos órgãos de poder, no sentido de se instituir como entidade reguladora do exercício profissional, seja legislado a breve prazo.
- Que seja definido o Estatuto Socioprofissional do Fisioterapeuta.
- Que o acesso ao Exercício profissional passe a ser exclusivamente ao nível da Licenciatura, salvaguardando-se os direitos adquiridos pelos profissionais que atualmente são já detentores das condições legais para aceder a esse título.
- Que o exercício da Fisioterapia seja praticado exclusivamente por profissionais habilitados com os cursos reconhecidos oficialmente.
- Que seja assegurado o número adequado de profissionais aos vários níveis da prestação de cuidados.
- Que seja estabelecido um adequado sistema de controle e regulação do exercício profissional, tanto no sector público como no privado e social, salvaguardando a identidade e autonomia profissionais.
- Que sejam criados mecanismos para o cumprimento das regras existentes e respeito pelo exercício do direito já consagrados a estes profissionais.
- Que seja realizado um levantamento das necessidades de Fisioterapia ao nível do Serviço Nacional de Saúde.
- Que esse levantamento seja realizado em função das necessidades dos clientes, da racionalização da prestação de cuidados e da sua rentabilização.
- Que sejam criados sistemas de informação e indicadores específicos de recursos e necessidades, adequados aos vários níveis de intervenção, com a participação dos Fisioterapeutas.
- Que sejam criadas estruturas coordenadoras da Fisioterapia ao nível das várias Regiões de Saúde.
- Que sejam colocados Fisioterapeutas em lugares de planeamento, controlo e decisão com vista a uma efetiva coordenação entre cuidados primários, diferenciados e continuados.
- Que seja garantido o acesso diferenciado a cuidados de fisioterapia de qualidade, com liberdade de escolha dos prestadores por parte do utente.
- Que seja promovida a visibilidade social da profissão como parceiro estratégico da saúde.
- Que os Fisioterapeutas sejam integrados nas equipas de saúde numa verdadeira relação de paridade e interdependência.
- Que sejam criadas unidades de Fisioterapia nos Hospitais, por forma a que o Fisioterapeuta se torne num verdadeiro recurso para os serviços hospitalares.
- Que seja legislado o licenciamento de Unidades de Fisioterapia.
- Dada a especificidade da sua intervenção, tais unidades deverão ser geridas pelos próprios profissionais, para uma maior eficácia da organização, planeamento e gestão dos próprios serviços.
- Que sejam estabelecidas formas de livre acesso do doente/utente ao Fisioterapeuta, no sentido de uma melhor racionalização dos recursos.
- Que seja promovido o alargamento do sistema de convenções aos verdadeiros prestadores de cuidados na área da Fisioterapia - os Fisioterapeutas – eliminando situações paralelas de atividade não qualificada.
- Que essas convenções sejam baseadas nas modernas práticas de Fisioterapia e assentes em critérios de qualidade na prestação de cuidados.
Nota Técnica do 5º Congresso Nacional de Fisioterapeutas
Data: 31 de maio a 2 de junho, 2002
Local: Auditório da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa, em Lisboa
Tema: A Fisioterapia em movimento
Número de participantes: 300
Presidente da Comissão Organizadora: Luís Marques
Comissão Organizadora: Luís Marques, Vítor Fernandes, Pedro Rebelo, Miguel Gonçalves, Pedro Teixeira, Beatriz Fernandes.
Comissão Científica: Augusto Gil Pascoal, Alice Beja, Eduardo Brazete Cruz, Fátima Sancho, Isabel Coutinho, Maria João Oliveira, Paulo Abreu, Raul Oliveira, Ricardo Pedro, Vítor Tolda.