VI Congresso Nacional de Fisioterapeutas · 2005

Resultados em fisioterapia – A evidência da nossa prática

Memórias dos Congressos Nacionais de Fisioterapeutas

 

 

6º Congresso

 

- Figueira da Foz, 12 a 14 de maio de 2005 -

 

Tema: Resultados em fisioterapia – A evidência da nossa prática

 

A primavera sorria na Figueira da Foz, corria o mês de maio de 2005.

Aproveitámos o momento e percorremos a pé um pouco do passeio da marginal para admirar a foz do Mondego e cheirar um pouco o Atlântico, antes de atalharmos pelas ruelas que nos deveriam conduzir ao Casino da Figueira. Era a primeira vez que percorríamos aquele espaço e o GPS ainda era uma miragem do futuro. Procurámos orientações, vimos posturas e padrões de marcha. Aposto que aqueles que seguem ali à frente são fisioterapeutas disse eu, e a minha companheira, também ela fisioterapeuta, anuiu. E seguimos aqueles que, acertadamente, nos iriam conduzir ao 6º Congresso Nacional dos Fisioterapeutas.

O Congresso Nacional dos Fisioterapeutas chegava ao Centro, pelas mãos dedicadas de colegas que davam corpo à recém-criada Região Centro da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO, à data APF). Uma organização que soube criar sinergias com as estruturas locais, oferecendo aos participantes um ambiente de agradável hospitalidade. Uma organização que trabalhou dia e noite para disponibilizar a melhor experiência do Congresso, distribuindo, a cada dia, a Newsletter com os factos mais relevantes que iam acontecendo durante o evento.

A Comissão Científica, responsável por um rico e variado programa, também tinha a assinatura de Coimbra, pela mão do saudoso fisioterapeuta, o professor João Gil.

Neste 6º Congresso apostou-se em divulgar a efetividade das intervenções de Fisioterapia, estando bem patente, no programa científico, o volume de trabalhos nas linhas de investigação relacionadas com os instrumentos de medida e com os resultados da intervenção. 

Conforme nos referiram elementos da organização, procurou-se, neste congresso trazer a ciência à profissão e aos profissionais, tornando-a presença habitual do dia-a-dia da Fisioterapia. Citando a Organização:

“O diagnóstico, a determinação dos objetivos e o acompanhamento dos utentes durante o processo de cuidados, implicam o uso de medidas que permitam quantificar o estado de saúde, bem como, as modificações que nele ocorrem ao longo do tempo.”

Começava a dar frutos o investimento no desenvolvimento académico e isso refletiu-se no Tema do Congresso: “Resultados em fisioterapia – A evidência da nossa prática”.

A satisfação com a obra realizada era patente nos membros da Comissão Organizadora, conforme nos foi confidenciado por um dos seus elementos.

Do programa científico, para além das dezenas de comunicações orais e pósteres, destacaram-se dois Simpósios, uma Conferência e a Conferência APFISIO. No Simpósio 1 teve como tema “Investigação em Fisioterapia – Trajetos e Estratégias”, houve a oportunidade de se tomar contato com as motivações que suportavam o percurso académico dos colegas fisioterapeutas que se encontravam a desenvolver os seus programas de doutoramento. No Simpósio 2 a “Praticabilidade e Utilidade das Medidas” foram expostas e analisadas por colegas que integravam o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra. A Conferência, realizada no dia 14 de maio, abordou uma área muito diferenciada da intervenção de Fisioterapia que estava em franco desenvolvimento, a “Ventilação Mecânica Não Invasiva”.

Na Conferência APFISIO, o fisioterapeuta António Lopes, que à data presidia a Região Europa da World Physiotherapy ( à data World Confederation for Physical Therapy), desenvolveu o tema “”Marcos do Desenvolvimento Profissional”, analisando a complexidade da profissão sob duas perspetivas: a fisioterapia como disciplina científica e a fisioterapia como profissão regulamentada.

Conforme se pode verificar no programa do 6º Congresso Nacional de Fisioterapeutas, as questões e os temas relacionados com o ensino e o desenvolvimento social da profissão foram exploradas, e a reflexão realizada ficou bem patente nas conclusões do congresso. 

 

6º CONGRESSO NACIONAL DE FISIOTERAPEUTAS

 -  CONCLUSÕES  - 

 

  1. As comunicações apresentadas e as diversas intervenções dos participantes confirmam o desenvolvimento da Fisioterapia como disciplina científica, no nosso país, indo ao encontro da tendência verificada no plano mundial.
  2. Os fisioterapeutas devem continuar a promover uma cultura de investigação e continuar a desenvolver uma prática baseada na evidência.
  3. Para uma prática baseada na evidência, os fisioterapeutas devem:
    • Contribuir para a elevação dos níveis de evidência disponível, nas várias áreas de intervenção;
    • Assegurar que os serviços por si prestados sejam baseados no melhor nível de evidência disponível;
    • Abandonar a utilização de técnicas e tecnologias que, de forma cientificamente comprovada, se apresentam como ineficazes ou não seguras;
    • Promover ações de formação e investigação sobre a garantia da qualidade nos cuidados de saúde, criando dinâmicas de avaliação próprias.
  4. Seja reforçada a parceria entre a APFISIO (à data APF) e as Escolas de formação de Fisioterapeutas no sentido de:
    • Garantir a qualidade da formação inicial, dentro dos padrões definidos pela World Physiotherapy (à data WCPT – World Confederation for Physical Therapy) e APFISIO;
    • Criar oportunidades de formação pós-graduada relevantes, que contribuam para a melhoria dos cuidados prestados pelos fisioterapeutas, e para o desenvolvimento da profissão e dos profissionais;
    • Potencializar os contributos realizados a nível de investigação científica, para que estes se tornem visíveis e aplicáveis no plano da melhoria efetiva dos cuidados prestados pelos fisioterapeutas;
    • Ser implementada uma base de dados contendo a identificação, caracterização e descrição de instrumentos e procedimentos de medição, aplicáveis à fisioterapia;
  5. A ativação do Grupo de Interesse sobre Ensino da Fisioterapia deve ser considerada uma tarefa prioritária, e paralela ao desenvolvimento das parcerias com as escolas de formação de fisioterapeutas.
  6. Reiniciar a publicação da revista da APFISIO – “Fisioterapia"As conclusões que se seguem já foram referidas em congressos anteriores e os Congressistas confirmaram que continuam a ser prioridades de ação:
  7. Os Fisioterapeutas deverão seguir os princípios e recomendações estabelecidos nos Padrões de Prática, adotados pela World Physiotherapy e APFISIO.
  8. Criação da Ordem dos Fisioterapeutas – que o projeto da APFISIO, apresentado aos Órgãos de Poder no sentido de se instituir como entidade representativa e reguladora do exercício profissional seja legislado a breve prazo.
  9. Que o exercício da fisioterapia seja praticado exclusivamente por profissionais habilitados com os cursos reconhecidos oficialmente.
  10. Que sejam criados mecanismos para o cumprimento das regras existentes e respeito pelo exercício do direito já consagrados a estes profissionais.
  11. Que sejam criadas estruturas coordenadoras da Fisioterapia ao nível das várias Regiões de Saúde.
  12. Que sejam colocados Fisioterapeutas em lugares de planeamento, controlo e decisão com vista a uma efetiva coordenação entre cuidados primários, diferenciados e continuados.
  13. Que seja realizado um levantamento das necessidades de Fisioterapia ao nível do Serviço Nacional de Saúde, para que seja assegurado o número adequado de profissionais aos vários níveis da prestação de cuidados. Que esse levantamento seja realizado em função das necessidades dos clientes, da racionalização da prestação de cuidados e da sua rentabilização.
  14. Que os fisioterapeutas sejam integrados nas equipas de saúde numa verdadeira relação de paridade e interdependência.
  15. Que sejam criados sistemas de informação e indicadores específicos de recursos e necessidades, adequados aos vários níveis de intervenção, com a participação dos Fisioterapeutas.
  16. Que seja garantido o acesso diferenciado a cuidados de fisioterapia de qualidade, com liberdade de escolha dos prestadores por parte do utente e no sentido de uma melhor racionalização dos recursos e continuidade dos cuidados.
  17. Que seja promovida a visibilidade social da profissão como parceiro estratégico da saúde.
  18. Que sejam criadas unidades de Fisioterapia nos Hospitais, por forma a que o Fisioterapeuta se torne num verdadeiro recurso disponível para todos os serviços hospitalares.
  19. Que seja legislado o licenciamento de Unidades de Fisioterapia. Que nesse quadro normativo estejam contemplados os princípios estabelecidos nas Normas de Boas Práticas da APFISIO para as Unidades de Fisioterapia.
  20. Que seja promovido o alargamento do sistema de convenções aos verdadeiros prestadores de cuidados na área da Fisioterapia – os Fisioterapeutas – eliminando situações paralelas de atividade não qualificada.
  21. Que essas convenções sejam baseadas em modelos de prática de Fisioterapia atuais e assentes em critérios de qualidade na prestação de cuidados.
  22. Os Fisioterapeutas deverão:
    • Ser responsáveis pela melhoria da Saúde com o objetivo do desenvolvimento dos serviços e na defesa dos valores éticos e sociais que os sustentam;
    • Ter em conta as necessidades ao nível da promoção da Saúde, prevenção da doença e continuidade de cuidados dando particular enfoque à dimensão educativa da sua intervenção;
    • Promover o seu desenvolvimento profissional contínuo, e a aprendizagem ao longo da vida.
  23. Os Grupos de Interesse da APFISIO deverão ir ao encontro das verdadeiras necessidades dos Fisioterapeutas e do desenvolvimento da Fisioterapia enquanto disciplina científica e profissão, nomeadamente perspetivando a criação de especializações em Fisioterapia.
  24. Com esse mesmo objetivo e indo ao encontro dos desafios que a profissão enfrenta, deverá ser estimulada a constituição de novos grupos de interesse. 

 

 

Nota Técnica do 6º Congresso Nacional de Fisioterapeutas

Data: 12 a 14 de maio de 2005

Local: Casino da Figueira da Foz

Tema: Resultados em fisioterapia – A evidência da nossa prática

Número de participantes: 250

Presidente da Comissão Organizadora: Sara Freitas

Comissão Organizadora: Sara Freitas, Ana Roque, Sandra Amado, Joana Rosado, Pedro Rebelo, Vítor Fernandes.

Comissão Científica: João Gil, Augusto Gil Pascoal, Luís Silva Cavalheiro, Cristina Argel de Melo, José Pascoalinho Pereira, Madalena Gomes da Silva, Maria Isabel Coutinho, Lúcia Simões Costa, Rui Soles Gonçalves.

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